CRONOLOGIA
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CURRÍCULO
TEXTOS
VÍDEOS
EXPOSIÇÕES
ATELIER
CONTATO
CRONOLOGIA

Cronologia foi elaborada por Ligia Canongia, a partir de pesquisa de Ana Holck, com supervisão do artista, entre agosto e outubro de 2004.

1925
Nasce no Rio de Janeiro, em 10 de junho, filho de imigrantes sírios da cidade de Roms, à nordeste de Damasco. No Brasil, seu pai foi mascate, comerciante de tecidos e dono de um armarinho em Ipanema, onde, na década de 40, Eduardo Sued eventualmente o ajudava.
Reside em Copacabana até os seis anos de idade, na rua Barata Ribeiro, mudando-se em seguida para Ipanema, onde vive até hoje.

1946/1948
Cursa até o terceiro ano a Escola Nacional de Engenharia, no largo de São Francisco, Rio de Janeiro, abandonando a faculdade para se dedicar à arte. Nessa época, começa a freqüentar a Livraria Francesa, no hotel Copacabana Palace, e a Livraria Askanazy, no Centro da cidade, onde folheava livros dos grandes pintores. Foi na Livraria Francesa que comprou uma publicação com uma conferência de Paul Klee proferida na Suíça, iniciando sua admiração pelo artista.

1948/1949
Estuda com o artista Henrique Boese, herdeiro do expressionismo europeu, no bairro de Santa Tereza, nos fins-de-semana, realizando desenhos e aquarelas. As aquarelas são seu primeiro contato com a cor.
Na época, torna-se amigo do compositor Tom Jobim, formando com ele uma turma que ainda incluía Marcos Konder Neto, Newton Mendonça, Flávio Marinho Rego e Belmiro Medeiros, sempre reunidos no bar Renânia, em Ipanema, e no bar Vermelhinho, no Centro.
O ano de 1948 situa, no entender do artista, o verdadeiro começo de sua carreira, após o abandono do curso de engenharia.

1949
Recebe de um amigo, Ângelo de Sá, que estudava na Alemanha com Heidegger, um álbum de Paul Klee, de cujas páginas saía purpurina, que colava nos dedos, fato que o artista diz ter ressonâncias nas telas de cor prata que viria a realizar cinqüenta anos depois.

1950/1951
Trabalha no escritório do arquiteto Oscar Niemeyer, como desenhista de arquitetura.

1951/1953
Faz sua primeira viagem a Paris, graças à venda de duas aquarelas ao padrasto de Tom Jobim, Celso Frota Pessoa. Com ajuda da família, permanece na capital francesa até 1953, residindo no Quartier Latin e freqüentando a Académie Julien e a Académie de la Grande Chaumière, onde fazia desenhos de modelos vivos. A permanência na Europa e as visitas a grandes museus dão ao artista a chance de conhecer importantes obras de arte, como as dos pré-renascentistas, os italianos do Renascimento e os primitivos, além de modernos como Picasso, Klee, Matisse, Miró, Kandinsky e Mondrian. Muitos desses artistas teriam papel fundamental na sua formação e no próprio futuro do trabalho.
Convidado pelo adido cultural da embaixada do Brasil em Paris, Vladimir Murtinho, participa em 1952 do III Salon des Travaux Publiques, na Galerie Metro Beaux-Arts, onde expõe aquarelas.

1953
Retorna ao Brasil e faz estudos de gravura em metal, técnica à qual passou a se dedicar, com o pintor e gravador Iberê Camargo, no ateliê do mestre, na Lapa, Rio de Janeiro. A figuração dessas gravuras já era moderna, com certa fragmentação.

1954
Aluga um ateliê provisório no bairro de Santa Tereza, Rio de Janeiro, para executar, auxiliado pelo artista Otávio de Araújo, o projeto de um grande mosaico de pastilhas, instalado no mesmo ano na fachada de um prédio residencial à rua Haddock Lobo, na Tijuca.

1955
Monta seu primeiro ateliê na rua Gomes Carneiro, em Ipanema, em cima de um tradicional restaurante russo.

1955/1956
Muda o ateliê para Copacabana, à rua Ministro Viveiros de Castro, onde o mantém até hoje.

1956
Participa do Salão de Arte Moderna no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, então sediado no edifício do Ministério da Educação e Cultura.

1956/1957
Torna-se professor de desenho e pintura para adultos e adolescentes na Escolinha de Arte do Brasil, professor de desenho, pintura, modelagem e plástica para crianças na Escola Hebraica, ambas no Rio de Janeiro.

1957/1963
Passa a residir em São Paulo, onde permanece por cinco anos, exercendo as funções de professor do curso “Pintura e técnicas artesanais”, para adultos, e desenho, pintura e gravura para adolescentes, na Escola de Arte da Fundação Armando Álvares Penteado, na Capital; professor de desenho e pintura para adultos no Clube de Arte da cidade de Santos; e orientador de desenho para professores da Escola Técnica da Aeronáutica, em São José dos Campos.
Também em São Paulo torna-se um dos fundadores, junto com Marcelo Grassmann e Darel Valença, do Museu Goeldi, hoje inexistente.
Participa, em 1958, de mostra coletiva de gravuras, com Marcelo Grassmann, Mário Gruber e Darel Valença, numa residência particular na cidade de São Paulo.

1963
Volta a morar no Rio de Janeiro e reabre seu ateliê em Copacabana.
O falecimento do pai tem ressonâncias na sua obra, fazendo-o desejar cores mais luminosas, que compensassem a morbidez. Na verdade, essa sensação da necessidade de luz só viria a se concretizar de fato na pintura anos depois, tornando-o um dos maiores coloristas do país. Em entrevista ao jornalista Antonio Gonçalves Filho, Sued afirmou: “Minha paleta não é ortodoxa e lembro que procurei as cores vibrantes quando meu pai morreu” (O Estado de S. Paulo, 21 de outubro de 1999).
Faz psicanálise junguiana e experiências com ácido lisérgico, que lhe abrem novos horizontes na percepção visual. Em depoimento ao jornal O Globo (22 de dezembro de 1971), Sued viria a declarar que a leitura dos textos de Jung “me fez ver mais claro as profundezas da alma e me armou para criar”.

1964
Participa de exposição coletiva na Petite Galerie, Rio de Janeiro, com desenhos e aquarelas.
Ilustra, para a Sociedade dos Cem Bibliófilos do Rio de Janeiro, o poema “Canto IV”, do livro As aparições, do poeta Jorge de Lima.

1964/1965
Realiza e edita um álbum de 25 gravuras em metal, com tiragem de trinta exemplares.

1966
Expõe as ilustrações (gravuras em metal), os desenhos e os estudos feitos para o livro editado pela Sociedade dos Cem Bibliófilos, na Galeria Barcinsky, Rio de Janeiro.

1967
Expõe na mostra coletiva “O rosto e a obra”, no Instituto Brasil-Estados Unidos – IBEU, Rio de Janeiro.

1968
Faz sua primeira exposição individual, na Galeria Bonino, Rio de Janeiro, apresentando pinturas, guaches e aquarelas. O folder da exposição traz texto crítico de Walmir Ayala, que comenta a fusão da geometria com a figura, dizendo: “Eduardo Sued conjuga a linguagem da abstração geométrica à livre distribuição de formas assomadas do subconsciente, criando uma caligrafia do espiritual”.
Participa da mostra coletiva “Gravura brasileira”, na Galeria Encontro, Brasília.

1970
Faz exposição individual de pinturas-colagens na Prisma Galeria de Arte, Rio de Janeiro, onde conhece o crítico Ronaldo Brito, que passa a acompanhar de perto o desenvolvimento de sua obra.
Na imprensa carioca, o crítico Jayme Maurício aponta diferenças na obra em relação à exposição da Galeria Bonino, realizada dois anos antes, dizendo que houve “uma evolução, um refinamento formal, um abrandamento tonal”, além de afirmar que as composições tornaram-se “planejadas, calculadas e realizadas com execução extremamente cuidadosa” (Correio da Manhã, 5 de maio de 1970).
É selecionado para a I Bienal San Juan de Gravura Latino-americana, em Porto Rico, e para a III Bienal Internacional de Gravura, em Cracóvia, Polônia, constituindo suas primeiras participações internacionais importantes.
Participa ainda de duas mostras coletivas no Rio de Janeiro, na Galeria Espaço e na Galeria Delaparra.

1971
Participa do Premio Internazionale Biella per l’Incizione, em Biella, Itália, e da exposição coletiva “Gravura brasileira”, na Galerie Pinx, Helsinki, Finlândia.
Expõe em sua residência, na Gávea, Rio de Janeiro, onde vivia com Marília Valls, que se tornaria sua esposa. Afirma, na ocasião, a influência de Paul Klee, “cuja obra me deu o sentido da criação e me mostrou que as forças inconscientes são várias e passíveis de serem figuradas” (depoimento a O Globo, 22 de dezembro de 1971).
Expõe em mostra coletiva na Galeria Collectio, São Paulo.

1972
Organiza em sua residência uma mostra coletiva de uma só noite para um grupo de ingleses ligados à Tate Gallery, intermediados pela jornalista Adelina Capper, então editora do Brazil Export. A mostra inclui, além de suas obras, trabalhos de Volpi, Iberê Camargo, Yutaka Toyota, Paulo Roberto Leal, Osmar Dillon, Iazid Thame, Farnese de Andrade, Ivan Serpa e Wanda Pimentel.
Agentes do DOPS invadem seu ateliê e destroem telas e materiais de trabalho. Com spray, chegam a desenhar uma suástica sobre uma das pinturas. Mais tarde, Sued realiza duas obras para o Estado, e faz a cobrança do imposto GM (sigla de Garrastazu Médici, presidente da República nesse período), inventado por ele, para se ressarcir do prejuízo.

1973
Participa de dois eventos coletivos: “Gráfica brasileira de hoje/Grafica brasiliana d’oggi”, na Galeria Casa do Brasil, em Roma, e “Quatro gravadores brasileiros” (Eduardo Sued, Darel Valença, Iberê Camargo e Otávio de Araújo), na Galeria Grupo B, Rio de Janeiro.

1974
Faz exposição individual, com seis pinturas e quatro colagens, na Galeria Luiz Buarque de Hollanda e Paulo Bittencourt, Rio de Janeiro, com folder-convite apresentado por texto do crítico Ronaldo Brito, que diz:
“O esboço de estudo que pessoalmente proponho, que naturalmente não anula outros estudos (o que caracteriza a arte é justamente o excesso de significações), parte da seguinte hipótese: o trabalho de Sued é um programa de construção e rompimento de simetrias. Reconstituindo o movimento de produção de suas telas, vejo dois momentos distintos: a busca preliminar de uma simetria (que inclui o próprio formato das telas) e uma ação posterior visando rompê-la. Trata-se, portanto, de um jogo especular, não de uma construção racionalista”.
Na imprensa carioca, o crítico Roberto Pontual escreveu:
“Me parece indispensável identificar desde logo o trabalho atual de Sued fora do que se convencionou rotular, genericamente, de abstração geométrica [...] relaciono sua pintura, sobretudo, a essa insidiosa tensão interna que dá substância à obra de um Mark Rothko ou de um Ad Reinhardt, bem diferente da estudada assepsia de um Piet Mondrian” (Jornal do Brasil, 21 de novembro de 1974).
Realiza o vitral da Capela Ecumênica da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UERJ.

1974/1980
Trabalha como professor de gravura em metal no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.

1975
Participa da mostra coletiva “Arte brasileira”, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
O MAM-RJ adquire o primeiro trabalho do artista para seu acervo.

1976
Participa da mostra coletiva “20 artistas brasileiros”, no Centro de Arte y Comunicación – CAYC, Buenos Aires, Argentina.

1978
Expõe na mostra coletiva “América Latina – geometria sensível”, com obras geométricas de artistas latino-americanos e Sala Especial do uruguaio Joaquín Torres García, sob a curadoria do crítico Roberto Pontual, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Foi durante esse evento que ocorreu o trágico incêndio do museu, no qual Sued perdeu todas as suas obras expostas.
Participa da coletiva “Quatro artistas brasileiros/Cuatro artistas brasileños”, na Fundación Eugenio Mendoza, Caracas, Venezuela.

1981
Participa pela primeira vez da XVI Bienal Internacional de São Paulo, sob a curadoria de Walter Zanini, com três telas de grande formato (entre 3 e 4 metros de extensão), duas das quais quase inteiramente monocromáticas.
Expõe no Espaço N.O., em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, na mostra coletiva “Artistas brasileiros dos anos 60 e 70 na coleção Rubem Knijnik”.

1982
Oito anos depois de sua última exposição individual (1974), apresenta no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro uma grande mostra com vinte pinturas de grande formato, dentro do programa “Espaço ABC – Funarte”, a convite do crítico Paulo Sergio Duarte, curador do programa.
Nesse momento surge um dado novo na sua pintura, bases mais claras (espécie de rodapés) que interrompem, com um corte horizontal, a extensão contínua e vertical das cores. O crítico Ronaldo Brito, no texto “Nada pleno”, que faz a apresentação da mostra no catálogo, assim comenta:
“O limite inferior do quadro, aquilo que mais imediatamente o prende ao mundo, é a questão central do trabalho. [...] a presença absurda dessa ‘ausência’ é um fator de desequilíbrio na economia da obra [...] ali está aquela palpitação incongruente a descompor o Todo, a indicar que o problema está na raiz e a pulverizar o espaço construído. [...] A faixa ou a linha inferior do quadro é filha, ilegítima talvez, da Mesa das Naturezas-Mortas tradicionais. Com toda a certeza, remete a uma linha do horizonte e a tudo o que acarreta em termos da representação pictórica no Ocidente”.
Faz sua primeira exposição individual de pintura em São Paulo, na Galeria Luisa Strina.
Sobre a exposição, e em entrevista ao jornalista Marinho de Azevedo, Eduardo Sued, ainda em comentário às novas bases que surgiam na pintura, declara: “A base rompe o contorno do quadro. Faz com que ele deixe de ser só um quadrado” (Veja, 13 de outubro de 1982).
Participa de coletiva no Gabinete de Arte Raquel Arnaud Babenco, São Paulo, com catálogo apresentado por Paulo Sergio Duarte.

1983
Faz exposição individual, com um conjunto de nove telas, na Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro, e participa, na mesma galeria, de mostra coletiva intitulada “13 artistas, 13 obras”. Sobre a mostra individual, o crítico Wilson Coutinho comentou:
“Sued não é maneirista. Ele soube aproveitar as lições do passado, Cézanne em especial, para criar uma pintura que falasse somente da pintura, que fosse cor, concisão formal e um estilo próprio, que embora tenha referência nos campos de cor de Barnett Newman, ou seja, ainda uma dissecação estilista de Mondrian, mantém uma bela e arrojada experiência com as estruturas formais e de cor” (Jornal do Brasil, 25 de outubro de 1983).

1984
Participa da XLI Bienal de Veneza, Itália, com um trabalho inédito, na fronteira do tridimensional, em que faixas de seda pura colorida, apostas diretamente na parede, substituem as tradicionais tiras verticais de cor no suporte da tela, e as “bases claras”, surgidas em 1982, são pintadas na parede, embaixo das faixas de seda. Com isso, Sued dividia espaço de pintura (bases) e espaço real (sedas), exatamente ao inverso do procedimento das telas anteriores, em que as bases é que indiciavam o mundo real.
Mostra os trabalhos da Bienal de Veneza antes de eles seguirem para a Itália, em individual na Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro.
Participa de mostra coletiva de pintura, com Adriano de Aquino, Paulo Roberto Leal e Ronaldo do Rego Macedo, na Galeria de Arte UFF, da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro.
Participa da coletiva “Pintura brasileira atuante”, no prédio da Petrobras, Rio de Janeiro.
Expõe na coletiva “Tradição e ruptura: síntese de arte e cultura brasileiras”, na Fundação Bienal, São Paulo.

1985
Faz exposição individual no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo, com catálogo apresentado pelo crítico Ronaldo Brito com o texto “Um mínimo valor: o mundo”. Nele Brito escreve:
“A ordem rigorosa e a perfeição da pintura de Eduardo Sued estão no registro do instável e do inconstante, na medida de uma urgência sem termo. Para ele, o real não é um constructo lógico-formal a priori; é uma ininterrupta tarefa de construção e, ao mesmo tempo, uma precipitação e uma vertigem concretas que nos atravessam”.
Participa da mostra coletiva “Encontros: Homenagem a Maria Leontina”, na Petite Galerie, Rio de Janeiro.
Expõe na coletiva “Iberê Camargo: trajetória e encontros”, no Museu de Arte do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

1986
Realiza individual na Thomas Cohn Arte Contemporânea, Rio de Janeiro.
Participa da mostra coletiva “A ordem em questão”, na Galeria de Arte UFF, da Universidade Federal Fluminense, Niterói, Rio de Janeiro.
Participa da coletiva “Arte contemporânea brasileira”, na Petite Galerie, Rio de Janeiro.
A mostra “Iberê Camargo: trajetória e encontros” itinera para o Museu de Arte de São Paulo de São Paulo, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o Teatro Nacional Cláudio Santoro de Brasília.

1987
Participa da XIX Bienal Internacional de São Paulo, em Sala Especial intitulada “Em busca da essência: elementos de redução na arte brasileira”, com curadoria de Gabriela S. Wilder, onde reapresenta as três grandes telas expostas na Bienal de 1981.
Faz exposição individual na Thomas Cohn Arte Contemporânea, onde exibe doze telas quadradas. Sobre a mostra, em texto publicado no jornal Folha de S. Paulo, o crítico Alberto Tassinari comentou:
“Há uma única tela agora, mas uma multiplicidade de totalizações parciais lutam umas com as outras para individualizarem uma forma. [...] essa lógica do conflito assumiu também a dinâmica dos diversos aspectos dos contrastes de cor, e é talvez a melhor retomada, nos dias de hoje, do projeto construtivo na arte: reverter uma na outra a percepção e a construção do espaço”.

1989
Volta a se apresentar na XX Bienal Internacional de São Paulo, com curadoria de Stella Teixeira de Barros. Dessa vez exibe oito telas recentes, de grandes formatos.
Realiza exposição individual na Galeria Luisa Strina, São Paulo, com dez telas; algumas delas já exploravam uma paleta de tonalidades mais baixas, onde muitos viram a presença de Morandi, elegendo cinzas e ocres como tons dominantes. Outra característica nova foi a não dissimulação do gesto do pincel, diferente das chapadas uniformes anteriores. Eduardo Sued começava então a incorporar a trama dos traços, fazendo a superfície agitar-se ao ritmo gestual.
O texto do catálogo da exposição (reeditado no catálogo da XX Bienal de São Paulo), assinado pelo crítico Rodrigo Naves, comenta:
“A combinação tensa de evidência e dissolução, de estruturação e corrosão, que perpassa as telas dessa mostra, envolve uma compreensão lúcida da difícil situação da arte contemporânea. A ela, no entanto, se junta uma produção que, além de estar à altura de sua época, não se aproveita do momento de crise para apenas tematizar exteriormente os dilemas artísticos, numa renúncia velada à manutenção da própria possibilidade da arte. Por essa razão, não causa espanto o diálogo tão produtivo dos atuais trabalhos de Sued – sobretudo os esplêndidos quadros cinza – com a obra de Morandi”.
Participa da coletiva “Geometria sem manifesto”, no Gabinete de Arte Cleide Wanderley, Rio de Janeiro, com curadoria de Ligia Canongia. Nessa ocasião, e em depoimento à imprensa, Sued iria reafirmar uma de suas declarações mais constantes ao longo da vida:
“Costumo ouvir as cores para poder fazer a estrutura cromática das telas. As cores falam muito baixo e por vezes demoram até a falar. O pintor precisa trabalhar com os ouvidos para escutar as exigências das telas. Quando estou em dúvida a respeito de um trabalho, fecho os olhos e aproximo o ouvido da tela. As cores servem para serem vistas e ouvidas” (O Globo, 2 de outubro de 1989).
Participa da grande coletiva “Rio hoje”, que reabre, após período de desaquecimento, a programação do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, com curadoria de Paulo Herkenhoff, Viviane Matesco, Ligia Canongia e Reynaldo Roels Júnior.
Expõe na coletiva “Gesto e estrutura” no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo.
Participa da mostra coletiva “Coleção Banerj – 60 obras”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro.

1990
Faz exposição individual na Galeria GB Arte, Rio de Janeiro, com um conjunto de dezessete pinturas a óleo, de pequeno formato, em que predominam os “cinzas coloridos” (telas cinzas com pequenas interferências de tons vibrantes, como amarelo, vermelho e violeta). No catálogo da exposição, o crítico Paulo Venancio Filho declara:
“Inicialmente, cada tela aparece como uma mônada, contrariando a noção de série, mas pouco a pouco, percorrendo com atenção os trabalhos, nos damos conta dos desdobramentos que surgem, das estruturas mais ou menos recentes que evocam, de como um quadro sugere outro, até que percebemos um ‘vocabulário’ Sued. [...] À primeira vista, esse ‘vocabulário’ poderia ser considerado uma estrutura dual: cromática e geométrica. Até que se percebe que o geométrico já é cromático. Então, toda a ‘economia’ do quadro é desde o início cromática”.
Em entrevista ao Jornal do Brasil, Eduardo Sued comentou a respeito desses trabalhos:
“Alguma coisa aconteceu, quando comecei a usar os cinzas coloridos. Talvez um repouso interior, uma inteligência reflexiva, um pensamento sélfico” (Jornal do Brasil, 13 de outubro de 1990).

1992
Faz grande mostra individual, com trinta obras, no Paço Imperial do Rio de Janeiro. Um salto qualitativo de grande impacto aparece nas novas telas. Agora, a superfície da pintura ganha espessura densa de tinta, pinceladas mais largas e explícitas, cortes efetuados direto nas telas, e acento absoluto nos tons baixos e nos negros. No catálogo, Ronaldo Brito escreve o texto “Íntimo universal”, em que se lê:
“Ao que tudo indica, teria sido nada menos que imprescindível ao colorista Sued descer a procurar em tons baixos e opacos, em enganosas monocromias neutras, a repotencialização do problema da luz e da cor; e ‘complicar’ o sóbrio virtuosismo de seu óleo homogêneo mediante o emprego reflexivo de veículos diversos, um pouco secretos; imprescindível ainda abandonar a uniformidade intelectual de sua superfície em favor de uma pasta de tinta que, no limite do expressivo, compareça positivamente nesse esforço de reespiritualização da cansada e abusada matéria pictórica moderna”.
E, na imprensa, o crítico Wilson Coutinho comenta:
“Agora, em sua nova fase, em que o negro se expande com uma turbulência vital nas telas, ele [Sued] pára no meio do ateliê para exclamar: ‘É a Espanha. Há qualquer coisa espanhola nessas pinturas. É Goya! O Mediterrâneo!’. [...] Agora a pincelada é revolta, agitada, turbulenta, como se cada gesto em direção à tela fosse individualizado. Além disso, está usando colagens e aplicando cortes na tela. As cores tranqüilas cederam passo à profundidade da cor negra” (Jornal do Brasil, 27 de setembro de 1992).
Participa de coletivas no Rio de Janeiro – “Galeria de Arte UFF: 10 anos”, Niterói; “A caminho de Niterói: coleção João Sattamini”, Paço Imperial; e “Anos 60/70: coleção Gilberto Chateaubriand”, Museu de Arte Moderna – e em São Paulo, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud.

1993
Realiza mostra individual com telas semelhantes às expostas no Paço Imperial, no Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo, com republicação do texto de Ronaldo Brito no folder da galeria. O número 33 da revista Guia das Artes publica grande matéria sobre a exposição, com texto de Lorenzo Mammi, onde se lê:
“Não está em discussão a coragem do artista em afastar-se de um estilo que o consagrou, e que parecia longe de esgotar-se. [...] No entanto, a virada de Sued é tão radical que impõe à crítica uma discussão imediata, e até uma reflexão sobre toda a sua produção” (Guia das Artes, n. 33, São Paulo, 1993).
Participa da exposição coletiva “Eduardo Sued/Nuno Ramos/Frida Baranek”, no Museu de Arte de São Paulo, em conjunto com o Gabinete de Arte Raquel Arnaud, São Paulo.
Expõe também na coletiva “Mestres brasileiros na coleção do Chase”, Pinacoteca do Estado, São Paulo.

1994
Realiza mostra individual, com 23 obras, na Galeria do Século XXI, Museu de Belas Artes, Rio de Janeiro, em mostra comemorativa de seus setenta anos. Em matéria publicada na imprensa paulista, o crítico Paulo Sergio Duarte comenta:
“As pinturas mais recentes incorporam essa presença espessa da pincelada, mas de forma mais controlada, e se diferenciam das telas escuras porque se encontram sob o domínio da luz e da transparência. A liberdade na invenção das oposições cromáticas retorna nos espaços diagramados em retângulos. Essa distribuição regular e ritmada do espaço reforça a diferença de profundidade entre os diversos valores tonais, atribuindo um movimento de aproximação e recuo, um dinamismo que já existia em antigos trabalhos, mas que agora se encontra intensificado pela maior visibilidade dos gestos” (O Estado de S. Paulo, 10 de dezembro de 1994).
Participa da exposição coletiva “Precisão” (com Amilcar de Castro e Waltercio Caldas), no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, com curadoria de Irma Arestizábal.
Expõe na coletiva “Bienal Brasil Século XX”, na Fundação Bienal, São Paulo.
Casa-se com Marília Valls, após convivência de 24 anos.

1995
Realiza mostra individual na Galeria Casa da Imagem, Curitiba.
Dentre as coletivas, destacam-se: “Desafios contemporâneos”, P.A. Objetos de Arte, Rio de Janeiro; “Uma poética da reflexão”, Espaço Cultural CEF, Rio de Janeiro; “Salão preto e branco”, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro; e “Morandi no Brasil”, Centro Cultural São Paulo, São Paulo.

1996
Participa das mostras coletivas “Geometria-Rio”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, e “Arte contemporânea brasileira na coleção João Sattamini”, Museu de Arte Contemporânea, Niterói.

1997
Recebe o “Prêmio Johnnie Walker” (2º lugar), no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.
Realiza exposição individual, dentro do programa “Ateliê FINEP”, no Paço Imperial do Rio de Janeiro, onde exibe dez pinturas e quatro objetos na cor prata, recuperando a memória e a surpresa que o livro de Paul Klee, com pranchas prateadas que largavam purpurina nos dedos, havia lhe causado em 1949 (ver referência acima). A exposição culmina com um enorme painel, de cerca de 9 metros de cumprimento, com folhas de jornal também pintadas de prateado. Em depoimento à imprensa, Eduardo Sued declarou:
“O prata é o vazio, mas um vazio que é o lugar de alguma coisa, e contém a presença do invisível. O vazio vitalizado representa as coisas sem gravidade e sem peso, e foi se estendendo como uma potência na tela. É como se eu estivesse lidando com entes invisíveis e ausentes. Por repudiar algumas cores e conservar outras, o prateado – um autista muito exigente – instaura a ordem na tela” (O Globo, 30 de junho de 1997).
No folder de apresentação da mostra, Paulo Sergio Duarte afirma:
“As novas telas, metálicas e luminosas, liberam um novo espaço pontuado pelas curtas pinceladas em cores e modulado na superfície pelas múltiplas direções que dirigem o olhar. [...] São luminosas essas telas, não pela evidente banalidade de seus reflexos, mas pela exterioridade que conquistam, nos expulsando para fora das telas, nos obrigando a sair da intimidade para um mundo mais amplo”.

1998
Faz exposição individual, “Eduardo Sued: pinturas 1980-1998”, no Centro de Arte Hélio Oiticica, Rio de Janeiro, com curadoria de Paulo Sergio Duarte. A mostra reúne cerca de quarenta peças, perfazendo vinte anos de trabalho, com acento nas obras recentes – negros, cinzas e pratas, e nos formatos verticais. Sued apresenta também algumas instalações inéditas, uma delas em homenagem a um bordel situado na frente da instituição, com faixas gigantescas de cetim preto – do chão ao teto –, iluminadas por luzes roxas e vermelhas. No centro das faixas, uma protuberância pintada de vermelho projeta-se, lembrando o órgão genital feminino. O catálogo traz textos do curador e de Ronaldo Brito. Este último afirma:
“Eduardo Sued é o grande desinibidor das linguagens abstratas, de origem construtiva, na pintura moderna brasileira. Em suas mãos, essas linguagens alcançam uma fluência inédita, um sofisticado discernimento estético junto à indispensável relativização histórica, alcançam enfim uma perfeita aclimatação”.
É lançado o livro Eduardo Sued: entrevista a Lúcia Carneiro e Ileana Pradilla, pela coleção Palavra do Artista (Rio de Janeiro: Lacerda Editores). Dentre as coletivas, destacam-se: “Os colecionadores – Guita e José Mindlin: matrizes e gravuras”, Centro Cultural FIESP/Galeria de Arte do SESI, São Paulo; “O moderno e o contemporâneo na arte brasileira: coleção Gilberto Chateaubriand, MAM-RJ e MASP-SP.

1999
Faz exposição individual de pinturas, colagens e uma instalação na Galeria São Paulo, com 25 trabalhos produzidos desde 1997. Nessa mostra, apresenta pela primeira vez telas douradas e perfurações na superfície de algumas pinturas. O catálogo é apresentado por Paulo Sergio Duarte, com o texto “Cores como vetores de força”. Antonio Gonçalves Filho comenta o surgimento das perfurações em novas telas e declara:
“Em algumas telas é possível verificar pequenas perfurações. Sued explica que a razão de sua existência é a descontinuidade no espaço, como se este se curvasse em torno dos pequenos pontos que rompem com a superfície da pintura” (O Estado de S. Paulo, 21 de outubro de 1999).
Realiza, no Rio de Janeiro, duas mostras individuais simultâneas: uma na Chácara do Céu e outra na Galeria Paulo Fernandes. Para a Chácara do Céu, cria, dentro do projeto “Amigos da gravura”, uma serigrafia em tom dourado com alguns relevos e perfurações. A serigrafia é o centro da exposição, que apresenta ainda 23 desenhos e sete pinturas. Na Galeria Paulo Fernandes, exibe oito colagens montadas sobre placas de vidro. Sobre as colagens, o crítico Luiz Camillo Osorio comentou:
“Pedaços de papel de diversas texturas e cores misturam-se, constituindo um corpo ao mesmo tempo frágil e íntegro. Há uma precariedade e uma visceralidade incomuns na poética de Sued. Por outro lado, com o tempo vamos percebendo que cada folha reclama a outra, seja pela cor, seja pela textura, criando uma totalidade plástica poderosa” (O Globo, 25 de dezembro de 1999).
Realiza painel na fachada lateral do Galpão das Artes, Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Dentre as coletivas, destacam-se: “Volpi e Sued”, na Galeria Ipanema, Rio de Janeiro; “Mostra Rio Gravura”, no Museu Ingá, Niterói, no Espaço Cultural dos Correios e no Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.

2000
Realiza duas mostras individuais no Rio de Janeiro: “Pequeno formato, pinturas”, Galeria Objetos Diretos, e “Sued”, na Galeria Laura Marsiaj Arte Contemporânea. Nessa última, expõe quatro pinturas e um objeto de madeira pintada (réguas de madeira colorida agrupadas em estrutura tridimensional). Em entrevista a Daniela Name, Sued explicitou o desenrolar do comportamento espacial dessas réguas:
“As réguas fizeram um percurso rumo ao espaço. No Ateliê FINEP, ficavam presas na parede. Um ano depois, na exposição do Centro de Arte HO, já apenas encostavam no plano, e agora estão completamente soltas no ar” (O Globo, 21 de agosto de 2000).
É lançado um vídeo de sessenta minutos sobre sua obra – “Palavras no ateliê: uma tarde com Eduardo Sued” –, com direção e roteiro de Arthur Omar, dentro da série RioArte Vídeo, no Espaço Cultural Sergio Porto, Rio de Janeiro.
Participa de várias mostras coletivas no eixo Rio–São Paulo, com destaque para a grande exposição “Brasil + 500: mostra do redescobrimento”, na Fundação Bienal, São Paulo.

2001
Realiza exposição individual de pinturas na Manoel Macedo Galeria de Arte, Belo Horizonte, com texto de apresentação de Walter Sebastião no catálogo, que diz:
“De um lado, está sintetizada toda uma argumentação em favor do ofício e da planaridade como o elemento que dá especificidade à pintura; de outro, a sutil tentativa de, sem negar esses valores, desestabilizar o que pode existir neles de dogma”.
Participa de coletivas, das quais se destacam “A imagem do som de Antonio Carlos Jobim”, no Paço Imperial, Rio de Janeiro, e “O espírito de nossa época”, no MAM-RJ e no MAM-SP.

2002
Participa de várias mostras coletivas, destacando-se “Caminhos do contemporâneo 1952-2002”, Paço Imperial, Rio de Janeiro; homenagem aos dez anos da Marília Razuk Galeria de Arte, São Paulo; “A imagem do som do rock-pop brasileiro”, Paço Imperial, Rio de Janeiro.

2003
Realiza exposição individual, com pinturas, colagens e objetos, produzidos entre 1999 e 2003, na Marília Razuk Galeria de Arte, São Paulo. Os objetos, desta vez construídos em acrílico e não em madeira, são exibidos pela primeira vez.

2004
Realiza a mostra individual “Eduardo Sued: A experiência da pintura”, no Centro Cultural Banco do Brasil, Rio de Janeiro, com curadoria de Ronaldo Brito e Vanda Mangia Klabin. A exposição deu ênfase a trabalhos recentes, de grande escala, em que Sued agrega à pintura sarrafos de madeira pintada, apostos nas bordas, mas também dedicou uma Sala Especial a obras do passado, consideradas exemplares pelos curadores. O catálogo traz pequeno texto de apresentação dos curadores e dois estudos críticos, de Paulo Sergio Duarte e de Roberto Conduru. Na imprensa carioca, o crítico Luiz Camillo Osorio a elege, em pleno mês de julho, “a exposição do ano” e comenta os aspectos novos que a obra apresenta:
“Além da ousadia cromática e do uso explícito da pincelada, dinamizando a superfície, cabe chamar a atenção para as apropriações e os deslocamentos de materiais no plano da tela. É aí que sua obra recente se renova e ganha força. O uso de pedaços de madeira colados e, muitas vezes, deslocados do plano cria tensões que desestabilizam a ordem e fortalecem a forma. [...] As telas ganham uma precariedade quase primitiva ao mesmo tempo em que são austeras e rigorosas” (O Globo, 30 de julho de 2004).
Participa da mostra coletiva “30 artistas”, Mercedes Viegas Arte Contemporânea, Rio de Janeiro.
Faz projeto de grande painel para a fachada do Edifício São Vito, atualmente em processo de instalação, em São Paulo.

2005
É lançado o primeiro livro retrospectivo do conjunto de sua obra, com organização de Ligia Canongia, patrocínio da Petrobras e edição da Cosac Naify.